sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Chapter 71 - The Truth Hurts

Eu ia morrer. Tinha tiro vindo de todos os lugares. A mulher do meu lado estava chapada e pronta pra morrer também. Confesso que nesse momento eu pensei em pouca coisa. Pensei na minha filha, nas merdas que eu tinha feito pra chegar a essa situação podre e também fiquei olhando pros peitos da Penélope, porque eles estava bem perto de mim na hora.
Então os tiros pararam. Uma hora tinha que parar porque isso não é uma merda de um filme. Eu arrastei a Penélope comigo na esperança de entrarmos no outro cômodo da casa e quando percebi começaram a tacar fogo. Na outra sala havia uma janela que podíamos pular mas dava de cara para um barranco nada amigável.
Eu quase a arremessei e fui logo em seguida, rolando no barranco, me arrebentando, me cortando e quando percebi nós estávamos a uma boa distância da casa que a esta altura já queimava bem alto.
Tudo isso significava que eu estava muito ferrado. De algum jeito esses caras sabiam do médico que eu havia chamado e tentaram me apagar. Eu não podia pensar muito nisso porque eu tinha uma mulher desmaiada prestes a ter uma infecção séria e nós estávamos no cú do mundo sem carro ou qualquer meio de transporte. Eu deitei Penélope num matagal aonde ela ficaria escondida e comecei a revirar a região. Achei uma bananeira o que ajudou porque ia ser bom comer alguma coisa e também achei uma trilha que levava pra fora daquele fim de mundo. Eu estava com muito medo porque essas trilhas eram também usadas pra levar drogas e pra esconderem presuntos (do tipo errado de carne), e se eu encontrasse alguém eu morreria na certa, fora o fato de estar um breu total. Após umas duas horas voltei e Penélope estava acordada e sentindo todas as dores que não sentia antes. Nós passamos a noite em silêncio até o sol aparecer. Ela chorava muito e eu a mantia em silêncio e a fiz comer um pouco.
Quando o dia apareceu nós caminhamos a trilha e chegamos num bairro de uma parte muito ferrada da cidade. Arrombei um carro, fiz uma ligação direta e começamos a circular em direção aos bairros mais nobres. Era um risco, especialmente se eu fosse visto por um policial mas ficar naquele buraco era mais perigoso ainda.
Então quando tudo estava uma merda completa ela abriu a boca de novo:
"Eles estão atrás de mim agora. Eu sei demais. Eu queria sair, mas... eu preciso da droga senão eu vou acabar morrendo..."
Era uma voz arranhada, fraca até irritante. Com certeza ela deve ter visto todo o tipo de merda acontecendo. Gente famosa e influente comprando sexo e drogas e isso geralmente acaba arrebentando pro lado mais fraco, que estava representado pela mulher bem ao meu lado.
"Você deve ter visto muita coisa ruim de gente importante, né?" eu falei.
"Você não sabe quem eu sou... é muito pior do que você imagina."
Chegando na zona rica eu me dirigi à casa de um amigo meu, de confiança. Eu só recorria a ele nas horas mais fudidas da minha vida e só porque eu já havia feito o mesmo por ele. Era o Barros. Ele fora o meu chefe faz tempo e já era aposentado. A esposa era uma médica das antigas que remendou muito policial furado e eu estava precisando dos dois. Eles me receberam como sempre e cuidaram de mim e da Penélope. Escondi o carro bem longe da casa dele e depois disso consegui ter uma noite de sono.
No dia seguinte eu decidi que era hora de ter uma conversa séria com a dona prostituta:
"Começa a falar. Se eu vou morrer eu quero enteder como essa merda vai acontecer."
"Eu juro que vou falar a verdade, mas eu não vou te culpar se você não acreditar."
Ela cuspiu tudo. Ela era filha de um cara rico, e virou uma porra de uma viciada. Começou a traficar como forma de pagamento. O problema é que o pai descobriu e desertou a vagabunda e ela começou a se vender pra pagar a droga e se manter sozinha. E aí é que toda a sujeira começa.
Sabe eu realmente não acreditei quando ela me falou. Ela fazia parte de um esquema mais sério. Além de levar a galera até às drogas e iniciar novos clientes ela envenenava a sociedade. Ela se vendia pros ricassos, faziam eles cheirarem e fumarem todas e no processo fotos e filmes eram gravados. Tudo isso era usado como barganha para ganhar vantagens. A Penélope não era uma puta qualquer, ela devia ser material bom pra pegar os peixes grandes com a calça arriada. Ela falou que alguns industriais e até um senador haviam caído na armadilha, embora a maioria dos alvos fossem os filhos deles. Os rabos presos cuidadavam do resto.
Mas eu fiquei muito assustado quando ela falou quem era o principal beneficiado disso tudo. E quando ela falou muitas peças se encaixaram e algumas coisas fizeram sentido. O cara que tava armando isso tudo era o meu chefe. O secretário de segurança do estado. Naquela hora eu sentei na cadeira mais próxima e respirei bem fundo e tudo o que eu ouvia era o choro da mulher ao lado...
"Eu não quero morrer... eu quero sair disso... me ajuda..."
Por dentro o meu choro era idêntico ao dela.

2 comentários:

ghfdc disse...

Se fosse na época em que o Garotinho era o secretário de segurança, eu ajudava... Hahahahaha...
Um abraço.

Lila Yuki disse...

Dois.