domingo, 6 de janeiro de 2008

Chapter 79 - Live After Death

Entrei na sala de Sol. Uma sala típica de executivo, uma mesa grande, alguns quadros pendurados na parede, fotos, etc..
Sentei na cadeira de frente para ela e começaram algumas explicações. Sol comandava o setor de RH da empresa. Basicamente ele cuidavam de processos seletivos, testes psicotécnicos, testes de proficiência e providenciavam cursos de reciclagem dos empregados antigos.
Ela continuava com aquele papo corporativo e eu me vi obrigado a interromper aquilo tudo.
"Sol, desculpa te interromper, mas assim, eu tou morto faz algumas horas eu queria entender o que acontece na pós-vida, entendeu?"
Ela agiu como se aquilo tudo fosse normal e retrucou:
"Tá bom, pergunte o que quiser."
E eu perguntei. E Sol respondeu a tudo da melhor maneira que possível. Não era algo simples. Especialmente a parte sobre mundos paralelos. Eu só sou um analista financeiro, não sou um ocultista.
Basicamente descobri que eu não estava no Céu, nem no Inferno nem no purgatório. Eu estava numa espécie de encruzilhada entre estes três lugares. Os empregados todos um dia foram vivos no nosso mundo, e foram recrutados devido à habilidades específicas e também devido à capacidade de manter o estado mental num lugar destes.
O mais bizarro foi descobrir que a empresa funciona 24 horas por dia, mas os empregados trabalham em turnos de 8 horas. Depois elas voltam para casa. A empresa fica no meio de uma cidade erguida pela própria Morte (não sei até agora se devo chamar de ele ou ela...).
Descobri que não preciso de alimento ou bebida, embora exista o prazer de se consumir tais iguarias.
Também perguntei sobre o que eu iria fazer. Ela me respondeu que eu iria fazer entrevistas. A empresa havia aposentado mais de 3000 funcionários num programa de demissão voluntária, pois eles haviam chegado há mais de sete séculos e não estavam absorvendo bem a tecnologia nova da empresa. A meta era contratar mais 1000 funcionários nos próximos 3 meses.
Só tive uma pergunta que não foi respondida:
"O que causou o erro da minha morte?"
"Eu não sei. Estão investigando. Muitas vezes não há explicação..."
Eu não quis discutir. Não dava pra ser desfeito. Eu já devia estar apodrecendo. E pra ser honesto a minha vida era boa... mas eu não estava fazendo muita coisa com ela. Talvez seja por isso que eu não tenha lutado tanto. A minha alma ficou revoltada, mas longe de estar realmente furiosa. A minha vida era ir para o trabalho e para casa. De vez em quando sair com algum colega idiota do trabalho. Meus relacionamentos foram poucos e desastrosos. Eu me estabeleci cedo na vida e logo meus pais haviam morrido e eu não tinha irmãos. De certa forma o mundo não está sentindo muito a minha falta. Pelo menos eu não deixei nenhum filho para criar.
Eu saí da sala e como Sigmund havia falado, minha máquina havia chegado. Era um computador comum. Liguei, e começou a funcionar e me senti idiota de não ter perguntado sobre isso para Sol. Será que a empresa da morte sempre foi assim? Mas como? Os computadores existem faz muito menos de um século... e quando eu cheguei aqui o Jonas falou que não cometiam erros desde a peste negra... isso faz tempo pra cacete.
"Sigmund, me responde uma coisa?"
"Claro."
"Você trabalha aqui faz quanto tempo?"
"Cento e quarenta e nove anos. Porquê?"
"Cara, desde quando vocês usam computador?"
"Ah... isso aconteceu ano passado. É uma história longa. O expediente acaba daqui a meia hora. A gente sai num bar e a gente conversa sobre isso."
Quando eu olhei a tela do computador e quase tipo um troço.
"MS Windows"
E Sigmund me deu uma explicação que para mim pareceu muito lógica.
"Ah... vocês acham que alguém lá no nosso mundo inventou isso... cara, isso aí foi a porra do capeta que inventou. E não tou de sacanagem não. Foi o diabo mesmo que lançou essa porcaria. Uns idiotas lá no nosso mundo venderam a alma e tão aproveitando bastante."
Eu me recuperei desta revelação aos poucos, e devagar relaxei, lembrando como eu fazia quando era vivo, como era bom esperar aquela última meia hora de trabalho sem fazer nada, só esperando o relógio avançar. Logo seria o fim do meu primeiro dia no meu novo emprego.



Um comentário:

ghfdc disse...

O Cramuião inventou o Windows?

Eu sabia que ele tinha inventado o despertador...

Quantas patentes será que ele tem?

Um abraço.