quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Chapter 81 - Alcohol kills only if you are alive

Entramos no bar, um lugar comum, pouca luz, música ambiente, cheiro de cigarro e bastante gente bebendo. Sentamos no balcão, eu pedi uma cerveja e o barman já servia o Sigmund de vodka.
"Eu sempre venho aqui, já sou conhecido do pessoal." - disse Sigmund animado.
Ele parecia bem animado, um típico cara que fica feliz quando sai do trabalho pra afogar o pobre fígado em álcool.
"Cara pode ir pedindo, hoje eu pago. Não vou fazer muita coisa com esse dinheiro mesmo."
A partir daquele momento eu aprendi que eu deveria ter um salário.
"As coisas aqui funcionam de um jeito meio diferente. Primeiro não existe dinheiro vivo. Não existe cartão, nem conta de banco. Você coloca o dedo numa máquina e ela faz as contas de seus gastos."
"Então a gente tem conta pra pagar? Temos que comprar as coisas em lojas?"
"Não. Você não precisa se preocupar com isso. Nós trabalhamos na empresa. A gente ganha pouco dinheiro... mas a gente faz o que quiser com ele. A gente não tem conta ou imposto. Mas se não tivermos trabalho e dinheiro não tem muito mais o que fazer, entende?"
"E o que acontece com quem não trabalha na empresa?"
"Essas almas tem que trabalhar que nem quando elas eram vivas. Elas pagam contas para terem seus negócios. Energia, aluguel, etc. Mas não pagam nada mais além disso. No final todo mundo precisa de tudo mundo... só trabalhar na empresa me deixaria maluco. Por isso esse bar raramente fica vazio."
"E se alguém não quiser trabalhar?"
"Vai pra uma das portas mais cedo. Em geral a porta do Inferno."
Eu tinha que admitir que essa era uma motivação bem boa para se trabalhar. Mesmo assim era uma utopia. Um mundo sem contas, impostos e todo o seu salário você faz o que você quiser, inclusive encher a cara no bar. Se você quiser até pode abrir seu próprio negócio.
"Mas nem tudo é flores garoto. A cidade é grande... mas ainda é uma cidade só. Pode ser claustrofóbico pra alguns. Fora que também existem leis bem rígidas. Um criminoso aqui vai pro Inferno e nunca tem segunda chance."
"Que tipo de crimes são cometidos?"
"Roubo, assalto, coisas idiotas. Porra, o cara já tá morto e ainda vai assaltar outro... é muita burrice. De vez em quando acontece de uma pobre alma dar uma de maníaco.. e aí a coisa fica feia."
"Maníaco?"
"É cara.. estupro.. essas coisas... esses aí a diretoria de segurança não perdoam... mas isso é muito difícil de acontecer."
Naquela altura eu já havia tomado umas quatro cervejas e Sigmund estava na sexta dose de vodka. Eu continuava a perguntar sobre como tudo funcionava, Sigmund sempre respondendo. Ficamos assim durante horas até que olhei para o relógio do bar e vi que era bem tarde e resolvemos ir embora. Aí eu me dei conta de que eu não tinha um lugar para morar ainda.
"Bem, se você quiser pode morar comigo esses dias. Até você arranjar um lugar pra morar."
Saímos do bar e caminhamos por uns vinte minutos até um prédio aonde ficava o apartamento de Sigmund.
Ele me ofereceu um quarto pequeno mas que tinha uma cama para visitas.
Deitei na cama e fiquei pensando em tudo o que estava acontecendo comigo e não pude deixar de pensar como era tudo absurdo. Mas o que me incomodava mais é que mesmo em tão pouco tempo, eu já me sentia mais feliz do que quando eu era vivo.
Depois disso eu apaguei.

Um comentário:

Ceres disse...

Sua história está cada vez mais e mais legal!

Mas eu prefiro você vivo!!! Te amo!