sábado, 19 de janeiro de 2008

Chapter 80 - A toast for our dead friends

O relógio bateu a hora do fim do expediente. Sigmund me chamou e fui acompanhando até a saída. Naquela hora eu havia percebido que eu não sabia como era a paisagem fora do escritório. Eu não havia visto uma única janela em todo o tempo que eu havia estado lá e eu me perguntava como seria a cidade, os bairros e naquela hora certamente me perguntei como eram os bares.
Pegamos um elevador e depois de alguns minutos saímos do prédio e vi coisas que só havia visto em filmes. Os prédios eram extremamente altos, grandes blocos enormes de concreto e vidro. Era difícil saber aonde um prédio começava e o outro terminava, aquilo tudo era a cidade.
Sigmund tratou de me tranqüilizar:
"Calma rapaz, tem muito o que explicar. Vamos pegar o trem e eu te explico no caminho. Vai demorar um tempo até chegar no bar que eu costumo ir."
Entramos numa estação de trem, esperamos por uns cinco minutos e entramos. O vagão estava razoávelmente vazio e conversamos à vontade. Sigmund me explicou que toda a cidade trabalha em torno do empreendimento dos mortos. A missão da cidade era conduzir as almas para seu destino correto e reter aquelas adeqüadas ao trabalho. Portanto, com o tempo a cidade foi adquirindo contornos que refletem a própria sociedade humana atual, e hoje, o mundo dos mortos refletia ao máximo a nossa era tecnológica.
"Cara, eu estou aqui faz quase 150 anos e eu ainda não me acostumo com algumas coisas. Aquele prédio que nós trabalhamos e todos aqueles que estão anexados a ele, apareceram um dia do nada. Parece que vivemos num mundinho igual àquele que nós nascemos, mas isso é mentira. Isso aqui ainda é governado por coisas que não entendemos."
"E a implantação dos computadores?"
"Isso foi mais complicado. Era inevitável, pois toda a estrutura da cidade estava ficando informatizada. Mas o trabalho de encaminhar os mortos ainda era o mesmo desde a época do primeiro ser vivo. O Zé caveira anotava, e alguém mandava a pobre alma pra porta certa. Depois que ele foi embora, alguém anotava no lugar dele."
"E o que fez mudar isso?"
"Porra, tem gente pra cacete na Terra. E tem gente morrendo pra caramba. Chegou uma época que a gente tava vendo que ia precisar de muita gente pra ficar levando as almas, fora o espaço pra armazenar a papelada. Aí os graúdos da empresa passaram uns seis anos discutindo o plano de informatização."
"Aí veio o pessoal do inferno?"
"Isso mesmo. Ofereceram a plataforma básica... "
"Mas não era mais seguro permanecer como estava? O Jonas me falou que a última vez que haviam errado foi na época da peste negra."
"É... mas o pessoal que analisa a curva de óbitos viu que a coisa podia engrossar nos próximos 100 anos. Guerra ou alguma peste. Aí a diretoria se cagou toda e comprou aquela merda."
"Não me surpreendo que eu tenha sido morto por erro."
"Demorou um ano... mas aconteceu. Vai dar merda das grandes. A Sol sempre foi contra isso... agora ela tem argumento. Não foi à toa que ela colocou você debaixo da asa dela rapaz."
Depois disso o papo descambou para o pessoal da empresa. Típica conversa de sexta-feira depois do trabalho. Sigmund disse que apesar de tudo gostava de trabalhar aonde estava. Ele falou que a Sol era razoável.
"Cara, a Sol é uma pessoa tranquila de trabalhar. Mas ela é meio estranha."
"Por quê?"
"Aquele sorriso dela, meio que te despista. Ninguém sabe quase nada sobre ela, entende? Ela dá aquele sorriso e continua o trabalho dela, ela não te dá oportunidade de saber nada sobre ela. Não entendeu né? É estranho... depois de um tempo você vai entender."
Depois disso foram as outras meninas.
"Cara, de longe a mais escrota é a Úrsula. Ela trabalha direto com a Sol, então ela acha que é alguma coisa. O foda é que ela é gostosa pra cacete."
"É, eu notei... eu mal cheguei e ela fez questão de se apresentar de um jeito bem arrogante. Apesar disso eu fiquei mesmo com medo foi da Astrid, ela quase quebrou a minha mão."
"Ela é tranquila cara. Só não chateia ela porque aquela ali brava é um troço horrível. Ela é uma funcionária antiga pra cacete... tipo, eu ouvi falar, mas acho que ela era realmente viking antes de vir para cá."
"E as outras?"
"As outras meninas são tranquilas. No final é tudo mulher mesmo, entende? Vai ter hora que vai tar boazinha, outra hora histérica, outra hora pintando a unha... as coisas são iguais que nem de onde você veio."
"É. Eu fui contratado porque eu sou bonitinho."
"Quem disse isso?"
"Anika."
Depois disso Sigmund quase se estourou de rir. Ficamos falando algumas besteiras e após algumas estações, saltamos e caminhamos rumo ao nosso destino. Chegamos a uma entrada de um bar bem comum, com um neon brilhante escrito: Paraíso Perdido.




2 comentários:

Lila Yuki disse...

Realmente, isso tá muuuito escritório!!! Muito legal!!! Nem parece que trabalham pra irmã do Sandman!

Agora, por favor, tira esse verificação de palavras... O trabalho que dá para digitar esse treco não compensa os comentários 'indesejáveis'. Porque o pessoal desanima de comentar, é sério!

TE AMOOOOO!!!

Unknown disse...

A historia esta muito legal mesmo, cara!