terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Chapter 77 - Dead Ends

Eu fiquei olhando para eles. Eles ficaram olhando para mim. Então Agamenon resolveu quebrar o silêncio:
"Isso demanda uma decisão conjunta de nós três. Nós somos a diretoria desta empresa e segundo o regulamento nós votaremos. Jonas, o que você acha que deve ser feito?"
Jonas foi seco e rápido:
"Inferno. Lá sempre tem espaço de sobra. Sol, é a sua vez."
Finalmente havia descoberto o nome da senhora. Ela foi mais amigável.
"Ele não tem culpa disso, deve ir para o Céu. Pelo menos ele deve ser entrevistado para isso. Agamenon, temos um empate. Depende de você."
Eu olhei para aquele senhor, e antes que vocês pensem que rolou um grande suspense digno de final de um episódio de alguma série medíocre, Agamenon foi rápido e com um sorriso meio irônico respondeu:
"Nem Céu, nem Inferno, ele deve ser efetivado. Ele vai trabalhar aqui."
"Temos um empate de qualquer maneira então?" Jonas estava surpreso com aquilo. Ele continuou: "Rapaz seu destino ainda não está garantido, vamos ter que levar essa decisão para o executivo chefe."
"E quem seria ele?" - Sinceramente, essa era a única pergunta que eu podia fazer. Eu estava curioso na verdade, pois eu esperava que visse a Morte em pessoa, o Zé caveira, o cara da foice, o anjo da morte, seja lá o que fosse.
Jonas tratou de responder:
"Bem, todo mundo espera isso, mas você não vai ver a Morte. Ele se foi faz um tempo. Ficou meio pirado largou tudo e saiu vagando por aí. Deixou o negócio com os empregados. Ele disse que tava estressado e pegou uma licença de prazo indefinido. Então você vai conhecer o mais próximo disso, o nosso executivo chefe. De tempos em tempos o cargo passa de mãos em mãos."
"Tá, e hoje quem é o chefe executivo?"
Jonas respondeu com um tom entediado:
"Eu acho que você está com sorte, rapaz, pois o nosso executivo chefe é a pessoa mais bondosa da nossa empresa. É a minha irmã, Anika."
Agamenon pegou um ramal e falou com a secretária executiva. Após alguns minutos ele desligou e anunciou:
"Alexis, você vai ter que ir sozinho para a sala da Executiva Chefe Anika. E Jonas, parece que a sua irmã não está de bom humor. Ela já está sabendo do que aconteceu com o rapaz aqui. Ela disse que depois vai conversar com nós três."
Depois disso eu fui encaminhado para a sala da tal Anika. Pelo o que o Agamenon falou eles três estavam bem ferrados. Até eu morrer com meus 26 anos, eu havia passado quase oito deles em escritórios. Eu era analista financeiro e depois desse tempo eu já havia visto alguns barracos de escritório e eu sabia que eles três ia passar algumas hora ouvindo uns desaforos. Eu não sei que tipo de desaforo o pessoal do escritório da morte enfrentaria, mas não ia ser bom.
Finalmente eu havia chegado na sala. Tinha uma porta de madeira imponente e uma placa dourada com os dizeres "Executivo Chefe". Não era uma novidade para mim. Depois de uns dois minutos esperando ouvi a voz feminina dizendo: "Pode entrar!"
Então definitivamente aconteceu algo muito estranho. A executiva chefe da empresa da morte era uma menina que não aparentava ter mais de 16 anos. Vestida como uma patricinha (elegante até, mas uma patricinha ainda) e com aquele rosto de quem não tem nada no cérebro. Bem naquela hora eu definitivamente havia desistido de tentar entender qualquer coisa nesse novo mundo que eu havia entrado. Eu me espanto até hoje com a naturalidade com que eu abdiquei todo o resto de bom senso que eu ainda tinha. Então Anika começou a falar com uma voz estridente e bem irritante:
"Então você é o garoto que morreu por engano né? Nooooossa que coisa horrível. Bem o que eu posso fazer por você?"
"Eu falei com os três diretores... eles falaram que você é que ia decidir o que vai acontecer comigo?"
"É verdade né? Aquele idiota do meu irmão falou pra você ir pro Inferno né? Coitadinho você não ia agüentar aquilo lá. A Sol, nossa sempre muuuuuito boazinha queria te colocar no Céu. Mas lá sabe, é muito concorrido duvido que você fosse entrar nessa condição, sabe, da gente te colocar pela janela. A gente ia ter que subornar um monte de gente "incorruptível". O Agamenon deu a sugestão de você trabalhar aqui com a gente, mas o que você sabe fazer?"
"Eu era analista financeiro."
Ela começou a pensar. Olhou uns papéis e começou a fazer umas anotações. Depois de uns cinco minutos que para mim pareceram horas ela falou com um tom simples, quase idiota:
"Tá bom."
"Tá bom o que?"
"Você vai trabalhar com a gente, você é bonitinho."
Naquela hora eu só pude pensar como as empresas eram todas iguais.

2 comentários:

Anônimo disse...

O que mais me impressiona é que você realmente consegue passar o espírito empresarial da coisa.
Estou adorando!
Quero mais!!!

Te amo!

Unknown disse...

Gostei bastante também. Mostra bem o quão exaustivo emocionalmente pode ser o clima corporativo.